quinta-feira, 11 de junho de 2009

Cibercultura - Cap 5 (Monografia de graduação de Raoni Pereira)

5 VITRINES VIRTUAIS

“Days at a time pass/

In the dead of the night is when you come to me

You've got so much to say

Just spread your wings and ride

On the electric universe

Behind your computer

What do you picture when you read my

Words and thoughts and dreams?

Do they all come alive and breathe?

It's no wonder/

This is a brand new world we're on

I'd really like to meet you somewhere along...”

(Música Mystery, da banda Shadow Gallery)

Existem muitos meios de produção e comunicação no ciberespaço, mas apenas alguns atingem grande popularidade, devido à inovação e facilidade de uso. Um meio de expressão que se tornou bastante popular há pouco tempo atrás foram os blogs. Um blog é uma página pessoal, de fácil atualização pois não requer habilidades para construir o site, que é moldado por um servidor que hospeda a página, bastando o usuário fazer algumas opções estéticas e começar a escrever. Este meio permite diversas utilizações, desde blogs específicos sobre assuntos, a “diários virtuais”, substitutos modernos daquele antigo caderninho onde anotava-se os acontecimentos do dia e impressões pessoais. A principal diferença reside que os antigos diários eram guardados a “sete chaves”, enquanto os blogs permitem que qualquer um que chegue ao seu endereço o leia, e geralmente, o comente.

Os blogs com função de “diário pessoal” foram gradualmente substituídos (embora ainda existam, perderam o “apelo popular” para esta função) pelos fotologs, que além de permitirem a fácil publicação de texto, também incluem a fácil publicação de fotos e imagens. Visto que as câmeras digitais também se popularizaram em algum grau, os fotologs supriram a “necessidade” de publicação em múltiplos meios.

Todas essas formas de “ser alguém” na rede, de estar ativamente presente na produção de material na Internet, indicam algumas mudanças no que diz respeito à exposição pessoal. Ao que tudo indica, na modernidade existe uma tendência à exposição, não só na Rede, mas em todas as mídias. O exibicionismo se tornou desvelado, passou a ter uma aceitação social muito maior. O programa “Big Brother” é somente um exemplo, dentre muitos que poderiam ser citados. O desejo de aparecer na mídia parece ser uma constante, a maioria parece desejar ao menos os famosos “5 minutos de fama”, mesmo que não seja para dizer nada (ou talvez melhor ainda se não for pra dizer nada).

Se por um lado existe a banalidade nessa exposição despropositada, vejo algumas coisas positivas nesta exposição de si. Além do simples prazer de escrever sobre si, ela proporciona uma abertura emocional e intelectual, e um retorno através dos comentários das outras pessoas que acessarem ao blog/fotolog. Isto ajuda a se posicionar diante de si e do mundo, ao escrever sobre idéias e atitudes, acaba-se por repensá-las e analisá-las, e com o retorno de comentários, a localizar essas idéias diante do mundo e dos outros[1]. Isto pode levar a uma melhor auto-afirmação, e ao aprender a lidar com críticas e comentários de outras pessoas sobre sua vida, pode acabar gerando uma melhor autoconfiança. Prange apud Nicolaci-da-Costa (2005, p. 78-79) analisou os blogs e os categorizou como um gênero híbrido da escrita de si, que submete o escritor a um constante processo de redefinição das fronteiras entre o público e o privado. Ele afirma isto porque os blogs misturam três diferentes tipos de escrita de si: aquelas encontradas nos diários íntimos tradicionais, aquelas encontradas nas correspondências íntimas e aquelas da escrita de si destinada a publicação.

Vale ressaltar que nem toda página pessoal é um “diário”, e a utilização da Internet com esse fim parece ter diminuído um pouco. Existem todos os tipos de página, criadas com os mais diversos fins, sobre os mais diversos assuntos. Existem blogs totalmente amadores e outros profissionais, com milhares de visitas diárias. Existem vídeos, fanzines, desenhos, pinturas e todo o tipo de produção cultural feita por todo o tipo de gente. Consoante Goldfarb apud Tapscott (1999, p. 78), “Nenhuma outra geração tem sido mais minuciosamente educada na cultura da mídia e no uso da tecnologia da mídia como um meio de expressão do que a juventude atual”.



[1] “(...) fica claro que a escrita on-line é, de uma forma ou de outra, geralmente usada para falar de si (não importa se o que é dito corresponde à ‘realidade’ ou se é uma construção de personagens) em programas interativos. Quando o usuário está interagindo com diferentes interlocutores, esse falar de si – que, de fato, é um teclar sobre si – leva-o a ter diferentes retornos sobre o que diz. O próprio ato de escrever sobre si, agora acrescido da visão do outro ou de outros, forçosamente torna conscientes para o usuário os aspectos subjetivos sobre os quais ele e seus interlocutores discorrem”. (Cf. NICOLACI-DA-COSTA, Ana Maria. Primeiros contornos de uma nova “Configuração Psíquica”. Disponível em: <http://www.cedes.unicamp.br> Acesso em: 9 set. 2006. p. 78-79)

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