Pergunta: Recentemente (2001) você foi Convidado por uma comissão da União Européia, para desenvolvimento de um relatório sobre democracia eletrônica. Poderia falar um pouco disso para nós?
"Sim, muitas vezes, as pessoas imaginam a democracia eletrônica como um sistema de voto pela internet, e para mim, a democracia eletrônica não é nada disso. Se há um progresso de democracia graças à internet, não é porque as pessoas vão responder imediatamente, apertando um botão, a pergunta de outros, mas porque as pessoas poderão, por si, elaborar muito mais seus próprios problemas. E mais, como sabem, sou filósofo e, portanto, para mim, as perguntas feitas são mais importantes que as respostas. E que as pessoas possam elaborar suas próprias questões e problemas e, eventualmente, submetê-los às autoridades políticas, esta já me parece a maneira pela qual a democracia irá progredir. Uma outra forma de progresso da democracia, acredito que seja a maior transparência. Com as novas técnicas de comunicação, as pessoas podem muito facilmente, ter acesso a documentos complexos, ter acesso a informações que antes pertenciam a uma pequena minoria. E uma das…neste sentido, uma das propostas que fiz à Comissão Européia foi a possibilidade de imaginar fazer uma espécie de mundo virtual acessível pela internet, uma simulação, em três dimensões, representando os fluxos de dinheiro público que circulam por Bruxelas, pela Comissão Européia. Veríamos quanto dinheiro é enviado pela Alemanha, quanto dinheiro é enviado pela França, pela Itália, pela Espanha, etc… com as proporções, mas não através de colunas numéricas e, sim, de uma forma visual. E, depois, veríamos como o dinheiro é utilizado, como ele é gasto. Quanto vai para pesquisa, para agricultura etc.. e, dentro da pesquisa, por exemplo, quanto vai para pesquisa em Educação, Biologia, Química. Portanto, teríamos um tipo de visualização um pouco como um sistema sangüíneo, como se o dinheiro fosse sangue. Como o dinheiro é bombeado, de onde vem e aonde vai. E, em cada ramificação, em cada ponto de decisão quanto ao destino do dinheiro, as pessoas teriam acesso aos documentos que justificam a escolha de aplicar o dinheiro em um setor em vez de outro, e poderia também haver uma conferência eletrônica que discuta as escolhas. Acho que, hoje, os cidadãos precisam saber o destino de seu dinheiro e por que ele é gasto desta ou daquela maneira. Precisam de transparência. Isso é visível no mundo todo, com os escândalos financeiros. A justiça perseguindo as pessoas que fraudam, os políticos que fraudam nos escândalos financeiros etc. Vivemos numa época em que a sociedade, cada vez mais, quer assumir suas próprias questões e em que não se espera mais a salvação dos políticos, mas que eles sejam honestos, bons administradores e que prestem contas. Acho que, tal transparência financeira, que hoje o ciberespaço tornou possível, seria, originalmente, pra prestar contas, restabelecer a confiança entre a população e os políticos. Acho que cabe aos políticos dar o primeiro passo, dizendo: “Sim. Somos transparentes”. Acho que a Rede torna isso possível. Acabou o reinado do segredo, das decisões veladas, dos lobbies que manipulam os políticos nas sombras. Queremos saber tudo, por que e como são tomadas as decisões, hoje, isso é possível. Tecnicamente."
Postado por Luisa Carolina
Acho que será muito útil para o povo europeu.
ResponderExcluirTenho minhas dúvidas quanto à utilidade dessa ferramenta aqui no Brasil.
Um artigo de Cristiano Aguiar Lopez, consultor legislativo da câmara dos deputados, mestre em comunicação pela UnB, revela que a percepção de corrupção é maior nos países com lei de acesso à informação pública mais bem organizada.
Apesar das possibilidades dessa ferramenta, ela não acabaria com a corrupção, apenas poderia reduzir, até que novas formas de corrupção fossem criadas.
Mas como diz Jacaré, dono de um Chevette: "pior é nada!". =D
É que no fim das contas, dificilmente um cidadão perde seu tempo consultando as contas públicas... Mas pelo menos facilita a vida da imprensa...
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