quinta-feira, 2 de abril de 2009

Cibercultura - Cap 2 (Monografia de graduação de Raoni Pereira)

2 REDE: O MOTOR DA REVOLUÇÃO

 

Vai cair fácil nessa rede
Depois não venha aqui chorar
Privacidade está ausente
Mas você quer continuar

(Música “A rede”, da banda Monjolo)

 

            Dentre as principais mudanças, a rede se destaca. A rede é onipresente nesta nova sociedade que surge, em todos os sentidos e campos. A economia passou a organizar-se em rede, as empresas dependem de redes, e, mais importante para este trabalho, as pessoas começaram a organizar suas vidas em rede e na rede. Parece-me bastante difícil analisar quem foi o primeiro afetado, qual segmento da sociedade humana começou a utilizar-se destas novas possibilidades tecnológicas, talvez porque elas sejam simultâneas e indissociáveis.

            O conceito de rede é utilizado para definir desde o pré-histórico dispositivo de malha utilizado para caça e pesca, como utilizado em diversas teorias dos mais diversos campos. Como definição, apóio-me em Castells (2003, p. 566), para quem a rede é um conjunto de nós interconectados, sendo estruturas abertas capazes de se expandir de forma ilimitada, integrando novos nós desde que compartilhem os mesmos códigos de comunicação da rede. É um sistema aberto e dinâmico, sendo inovador sem perder a estabilidade, flexível e adaptável, de contínua desconstrução e reconstrução.

            No século passado, a idéia de que os organismos se organizam através de redes ganhou mais força com as teorias sistêmicas, que foram aplicados aos mais diversos campos (inclusive na psicologia, com a Gestalt). Os modelos de rede começaram a ser utilizados em todos os níveis dos sistemas, considerando, por exemplo, “os organismos como redes de células, órgãos e sistemas de órgãos, assim como os ecossistemas são entendidos como redes de organismos individuais” (CAPRA, 2000, p. 44). Hoje em dia, até a física e a mecânica quântica apóiam-se no sistema de redes para explicar o comportamento de partículas subatômicas, pois estas não têm significado como entidades isoladas, mas sim nas suas interconexões. Podemos então entender a vida como uma rede dentro de outra rede, que faz parte de outra rede, “ad infinitum”. Ou, conforme Capra (2000, p. 44), “Desde que os sistemas vivos, em todos os níveis, são redes, devemos visualizar a teia da vida como sistemas vivos (redes) interagindo à maneira de rede com outros sistemas (redes)”.

A interconexão de computadores forma uma rede, sendo a mais famosa e importante a Internet, mas o importante é que outras redes se formam a partir dela, redes sociais e de comunicação, redes que proporcionam a união de pessoas em torno de algo, propiciando a inteligência coletiva.

            Como cada nó de uma rede tem que estar ligado ao outro nó, e ser capaz de se “comunicar” com ele, as evoluções tecnológicas dentro do ciberespaço tendem à universalização, e tecnologias incompatíveis, que não permitem sua utilização em todos os sistemas, tendem a ser vetadas pelos utilizadores desta rede, pelo “mercado”. Nesta cultura de rede, qualquer interrupção na interconexão é vista como negativa, algo a ser evitado e descartado.

            Na verdade, o próprio computador é, hoje em dia, uma rede globalizada. Diversos chips, sistemas e periféricos que são feitos nas mais diversas partes do mundo, e que necessariamente têm de comunicar entre si para funcionarem. No equipamento onde este trabalho está sendo feito, o monitor é coreano, o mouse chinês, o teclado americano, a placa de rede paraguaia, etc, e cada periférico destes tem componentes fabricados em lugares diferentes, mas todos capazes de interagir e trocar informações entre si. Esta é a tendência da cibercultura.

Nenhum comentário:

Postar um comentário