terça-feira, 7 de abril de 2009

Cibercultura - Cap 3 (Monografia de graduação de Raoni Pereira)

3 O VIRTUAL É REAL

“O virtual não substituirá tudo porque não cabe no disco rígido.”
(Marcelo Tas, no documentário “Gamer BR”, 2005)

Ao falar de computadores e de suas diversas formas de interação, seja para comunicação, diversão, trabalho e outros, muitas pessoas tendem a ver essa interação como virtual, no sentido de não-existente, fora da realidade material. Esta visão é compreensível, ainda que limitada e reducionista, visto que não há interação de conteúdo material visível ou tangível, da maneira com que as pessoas estão (ou estavam) acostumadas a ver. Para dar prosseguimento a este trabalho, acho importante uma compreensão aprimorada do termo “virtual” e de seu lugar na vida de todos.
Existem várias acepções para a palavra “virtual”, mas o sentido que nos interessa aqui (e que será utilizado no decorrer deste trabalho) é o sentido filosófico, conforme proposto por Lévy (1999 p. 47): “é virtual aquilo que existe apenas em potência, e não em ato, o campo de forças e de problemas que tende a resolver-se em uma atualização”. Nesta acepção, o virtual não se opõe ao real mas ao atual; o virtual e o atual são apenas dois modos diferentes de realidade. Como exemplo, o autor cita que uma árvore está virtualmente presente em uma semente, pois a produção da árvore encontra-se presente na essência da semente. O processo de transformação desta semente em árvore chama-se atualização, esta árvore virtual torna-se uma árvore atual. Outro exemplo que Lévy cita é o das palavras, que são virtuais, e sua enunciação a atualização.
O virtual, portanto, é “desterritorializado”, mas ainda que não possa ser fixado no espaço e no tempo, é uma dimensão do real. Uma mesma entidade virtual pode dar origem a diversas atualizações diferentes, pois o atual não é completamente predefinido pelo virtual. Uma palavra pode atualizar-se das mais diversas formas, inclusive com novos e imprevisíveis sentidos. Ou, conforme diz Lévy (1999, p. 48; p. 88), “O virtual é uma fonte indefinida de atualizações” e também “O virtual não “substitui” o “real”, ele multiplica as possibilidades para atualizá-lo”.
O computador é, antes de tudo, um operador da virtualização da informação. Ao digitalizar-se uma imagem, cria-se uma série de informações que possibilitam diversas formas de atualização desta imagem, como a exibição no monitor e a impressão. Mas não apenas a informação é virtualizada pelos computadores, mas cada vez mais ele participa de um processo de virtualização das organizações e do meio social. Embora esta virtualização já houvesse começado através de outras tecnologias, como o telefone, correio, rádio, televisão e muitas outras, que permitiam uma comunicação quase independente da localização geográfica e da sincronia temporal, apenas as tecnologias do ciberespaço,


...permitem que os membros de um grupo humano (que podem ser tantos quantos se quiser) se coordenem, cooperem, alimentem e consultem uma memória comum, e isto quase em tempo real, apesar da distribuição geográfica e da diferença de horários. (LÉVY, 1999, p. 49)


Isto permite que, por exemplo, uma empresa tenha suas instalações e funcionários espalhados ao redor do mundo, mas se coordene e trabalhe em um mesmo objetivo, independente da localização espaço-temporal de cada “pedaço” que ela possua. Isto é o que permite que as redes funcionem tão eficientemente, e tenham se tornado um novo padrão mundial.
O que é realmente importante, então, é a idéia de que o virtual é uma dimensão do real, e não algo fictício, fora da realidade. Para Zizek apud Jones (1998, p. 191), as comunidades virtuais não são uma grande revolução como aparentam, mas o que é realmente interessante é a retroatividade a que elas nos remetem, a descobrir o quanto de nosso ser sempre foi virtual.

2 comentários:

  1. interessante que pude assistir a seminários dos 2 autores deste capítulo quando estiveram em salvador ano passado. zizek deu um seminário gratuito no goethe institut sobre derrida, lacan e o sujeito pós-traumático e levy deu uma aula sobre inteligência coletiva no castro alves. não sei se vc foi a alguma das duas, mas foram apresentações bem interessantes.

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  2. Zizek eu nem soube, e o Levy quando eu descobri já estavam esgotados os ingressos =/

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